segunda-feira, 2 de maio de 2016

Ednardo- Passeio Público







Conhecia essa música do Ednardo de muito tempo. Acreditava que era uma música de um desespero difuso. Semana passada passei lá no forte com primos da Ana e me contaram que uma mulher tinha sido presa e torturada lá por causa da revolução pernambucana do século XIX. Não lembravam o nome dela, aí me lembrei dessa música que falava do forte e do passeio público por onde passávamos. Eu a cantei e como num estalo meus anfitriões falaram: "isso mesmo, Bárbara de Alencar". Era ela que soltava os "ganidos de morte" da música. Foi só assim que descobri a quem a música se referia e ainda mais. A música foi lançada em 76, quando a ditadura estava prendendo e torturando muita gente. Ednardo falava de sua atualidade lembrando da história de Fortaleza, como se Bárbara Alencar estivesse presa ainda, gritando. 

quinta-feira, 28 de abril de 2016

"A Dor" - Capítulo do livro "A Ditadura Escancarada" de Elio Gaspari

Estou postando este texto porque ele merece, porque é um libelo contra a tortura e porque parece que infelizmente ainda é necessário conversar com quem acha ela aceitável. Faz parte de uma série de livros historiográficos sobre a ditadura militar. Elio Gaspari é hoje uma das principais vozes contra o governo do PT escrevendo na imprensa e até por isso esse texto vale como lembrança que esta luta não é de partidos, mas de humanidade.

A dor

O que torna a tortura atraente é o fato de que ela funciona. O preso não quer falar, apanha e fala. É sobre essa simples constatação que se edifica a complexa justificativa da tortura pela funcionalidade. O que há de terrível nela é sua verdade, O que há de perverso nessa verdade é o sistema lógico que nela se apóia valendo-se da compressão, num juízo aparentemente neutro, do conflito entre dois mundos: o do torturador e o de sua vítima. Tudo se reduz à problemática da confissão. Quem melhor explicitou esse reducionismo, na visão da hierarquia, foi Ernesto Geisel: “Acho que a tortura, em certos casos, torna-se necessária, para obter confissões”.1 Na visão do torturador, a eficácia chega a surpreender. Um jovem tenente, mal iniciado nas práticas do regime, haveria de reconhecer: “A coisa complicou quando descobri que o método era rápido. Bastava levar para o porão, e pronto”.2
Como explicou o coronel Roger Trinquier, comandante do 3° Regimento de Pára-Quedistas francês na Argélia, que terminou sua carreira comandando mercenários no Congo: “Ao ser preso, o terrorista sabe que será interrogado, que não terá escapatória. Para ele, chegou a hora da verdade”.3 O secretário de Segurança do Rio Grande do Sul, coronel Jayme Mariath, descreveu a tensão dessa hora: “O interrogatório em si, em qualquer nação do mundo, não é um ato cordial. Atentados físicos contra eles [presos] se houve [...] é porque houve reação, uma resistência obstinada à confissão”.4 Ou, na argumentação de Jarbas Passarinho: “Os militantes são treinados para resistir aos interrogatórios, para dar tempo a que seus companheiros se ponham em segurança. A delação, para eles, é o supremo opróbrio, como o é para todos os que têm caráter”.5
Assim, a tortura pressiona a confissão e triunfa em toda a sua funcionalidade quando submete a vítima. Essa é a hipérbole virtuosa do torturador. Assemelha-se ao ato cirúrgico, extraindo da vítima algo maligno que ela não expeliria sem agressão. O militante do exemplo de Passarinho é torturado porque tem caráter, pois se não o tivesse, aceitaria o “supremo opróbrio” antes de apanhar, e ficaria tudo mais barato. Por conta de toda uma mitologia heróica, essa visão do interrogatório é freqüentemente compartilhada por vítimas e algozes. Jacob Gorender, fundador do Partido Comunista Brasileiro Revolucionário e vítima dos torturadores do Exército em São Paulo, sustenta que “são mais aptos a resistir à tortura os militantes que interiorizaram a ideologia socialista e fizeram dela sua norma mora1”.6 O PCB vangloriara-se do comportamento de Harry Berger, representante do Comintern que caiu nas mãos dos torturadores de Getulio Vargas e foi à demência sem passar pela submissão. Carlos Marighella, que passou pelas torturas do Estado Novo e nos anos 50 redigiu um folheto romântico intitulado Se fores preso, camarada..., fechou um soneto “Liberdade” — com versos típicos dessa visão propagandística do prisioneiro:
E que eu por ti, se torturado for,
possa feliz, indiferente à dor,
morrer sorrindo a murmurar teu nome.7

O PCB expulsou diversos dirigentes que, uma vez capturados, contaram aos seus torturadores segredos da organização. Nessa sua atitude houve sempre uma certa teatralidade, em que se varriam para debaixo do tapete casos de submissão que não convinham à mitologia partidária. Em todos os grupos esquerdistas vigorou um eufemismo para estigmatizar a conduta dos presos que produziram confissões: “Portou-se mal”. Em 1995 uma ex-dirigente da ALN chamou de “covardes” os simpatizantes dessa organização envolvidos na cilada em que o chefe terrorista foi assassinado.8 Esse julgamento subverte o problema moral da tortura, transferindo-se à vítima a responsabilidade pela conduta do algoz. Elaine Scarry, em magistral estudo sobre a tortura, argumenta que existe um “dissimulado desdém pela confissão” “Esse desdém é uma das muitas manifestações de quão inacessível é a realidade da dor física para quem não a está sofrendo”.9
A teoria da funcionalidade da tortura baseia-se numa confusão entre interrogatório e suplício. Num interrogatório há perguntas e respostas. No suplício, o que se busca é a submissão. O “supremo opróbrio” é cometido pelo torturador, não pelo preso. Quando a vítima fala, suas respostas são produto de sua dolorosa submissão à vontade do torturador, e não das perguntas que ele lhe fez. Prova disso está no fato de que nos cárceres soviéticos milhares de presos confessaram coisas que jamais lhes haviam passado pela cabeça, permitindo ao stalinismo construir suas catedrais conspiratórias. Um ex-cabo do Exército brasileiro, preso e torturado por oficiais da Marinha em 1969, confessou que vendera uma submetralhadora a um grupo terrorista ligado ao ex-presidente Juscelino Kubitschek e levou uma patrulha à mata da Tijuca, onde estaria escondido um arsenal. No meio do mato sua história desabou. Trocara a submetralhadora por maconha, nada mais. A conspiração fora montada na sessão de tortura, na qual fabricava respostas que contentassem seus algozes.10
Usada como instrumento de investigação, a tortura transforma-se para a vítima num tormento maior que a própria pena. 11 Ela extrai a confissão através da aplicação do sofrimento ao preso, mas não é a dor pura e simples que o leva a falar. É possível que um prisioneiro confesse ao receber descargas elétricas bem inferiores àquelas a que o general Massu se submeteu. No Brasil, um oficial do Exército experimentou o suplício: “É ruim, mas não é um horror. Dá para agüentar. Não é de se tirar de letra, mas não é o horror”.12
A tortura manobra a dor de forma diversa, O sofrimento começa ou pára, aumenta ou diminui, pela exclusiva vontade do torturador. Ele tanto pode suspender uma sessão para dar a impressão de que teve pena do preso, como pode avisar que vai iniciar outra, sem motivo algum, para mostrar-lhe a extensão do seu poder. “Meu maior medo não era do pau, mas da possibilidade de tomar um pau” lembra Ariston Lucena, militante da VPR, preso do DOI paulista.13 “O meu pavor atingiu tal limite que só de ouvir um abrir de portas já começava a tremer, eu não pensava em mais nada” depôs Manoel Henrique Ferreira, militante da VPR e prisioneiro da Força Aérea Brasileira.14
O poder absoluto que o torturador tem de infligir sofrimento à sua vítima transforma-se em elemento de controle sobre seu corpo. No meio da selva amazônica, espancando um caboclo analfabeto que pedia ajuda divina para sustar os padecimentos, um torturador resumiria sua onipotência embutida: “Que Deus que nada, porque Deus aqui é nós mesmo”.15 A mente insubmissa torna-se vítima de sua carcaça, que é, a um só tempo, repasto do sofrimento e presa do inimigo. “O preso só lastima uma coisa: o ‘diabo’ do corpo continua agüentando” lembraria o dirigente comunista Marco Antônio Coelho.16 Ainda que a certa altura a mente prefira a morte à confissão, aquele corpo dolorido se mantém vivo, permitindo o suplício. A dor destrói o mundo do torturado ao mesmo tempo que lhe mostra outro, o do torturador, no qual não há sofrimento, mas o poder de criá-lo. Quando a vítima se submete, conclui-se um processo em que a confissão é um aspecto irrelevante. O preso, na sala de suplícios, troca seu mundo pelo do torturador.17 “A vítima faz mais do que dar uma informação ao carrasco, ela passa a reconhecer nele o senhor da sua voz, ou seja, de sua humanidade”, ensina o professor Pierre Vidal-Naquet.18
Dentro da máquina do poder, a linguagem dos torturadores é bastante distinta da de seus exegetas. O Centro de Informações do Exército, numa referência elíptica aos suplícios, qualificou-os como “ações que qualquer justiça do mundo qualificaria de crime”.19 Oficiais do DOI do Rio atendiam ao telefone em nome da “Funerária Boa Morte”, e nele um torturador disse a uma jovem, durante uma Sexta-Feira Santa, que sofreria como Jesus Cristo.20 Em São Paulo, o agente Campão (cáften da boca-do-lixo) informava: “Meu nome é Lúcifer”.21 Um torturador disse no Ceará: “Aqui não é o exército, nem marinha, nem aeronáutica. Aqui é o inferno”.22 Na PE da Vila Militar, um sargento mostrava a cancela do quartel e dizia: “Dali pra dentro Deus não entra. Se entrar, a gente dependura no pau-de-arara”.23
A metamorfose provocada pela dor dá aos torturadores de todo o mundo muito mais que uma confissão. Pode-se estimar que bem mais da metade dos prisioneiros brutalizados nos porões, além de terem contado aquilo que seus algozes quiseram saber, prestaram-lhes algum tipo de colaboração durante o período em que estiveram nos centros de tortura. Foram raros os que nada disseram. Muitos resistiram às 48 ou 72 horas críticas, dando tempo para que se desconectassem as ligações que conheciam. Outros preservaram segredos que sobreviveram ao porão. Poucos, contudo, conseguiram resistir àquela rotina em que a perspectiva da continuação dos suplícios pode se prolongar por semanas, até meses. Houve casos em que presos torturaram companheiros, ou ainda de detentos que percorriam as ruas de São Paulo dentro de automóveis dos órgãos de informações, farejando “pontos” e apontando suspeitos.24 Foram inúmeros os prisioneiros que, depois de terem concluído seus depoimentos, ajudaram a estruturar interrogatórios alheios. Na maioria esmagadora dos casos esses presos, uma vez condenados e colocados sob a guarda da Justiça, fora do alcance dos torturadores, denunciaram as violências por que passaram. Poucos foram os que efetivamente se transformaram em quadros da máquina de repressão política.
A justificativa funcional da tortura como recurso conveniente na busca da confissão é mistificadora tanto no que se refere ao método como às suas conseqüências. O encontro do torturador com sua vítima não tem a banalidade implícita no raciocínio do eu-pergunto-ele-nãofala-eu-bato-ele-confessa. O que sucede nesse encontro, quando a proximidade dos dois sinaliza também a maior distância que pode separar dois seres humanos, nada tem a ver com a importância que um presidente, um senador, um coronel ou um torturador dão a uma confissão.25 Relaciona- se com a opinião que têm do gênero humano. A tortura raramente é reconhecida e nunca é abertamente defendida.
Toda a arquitetura de sua defesa se dá através de raciocínios contorcidos. Ora se diz que o preso não pode ser amparado pelas leis que protegem os direitos humanos, ora se relaciona o suplício à circunstancialidade da confissão. De todas as defesas, uma das mais convincentes tem sido a parábola do avião cheio de crianças. Com pequenas variações ela já foi repetida em diversos idiomas. Em português, assim foi enunciada por Geisel: “Não justifico a tortura, mas reconheço que há circunstâncias em que o indivíduo é compelido a praticar a tortura, para obter determinadas confissões e, assim, evitar um mal maior”.26 Essa projeção destina-se a demonstrar não só que o torturador está certo, mas também que, numa situação excepcional, todo ser humano pode ser um torturador.
A proposição é curta: imagine-se um avião cheio de crianças no qual se sabe que há uma bomba. Ela explodirá dentro de duas horas, e acaba de ser preso o terrorista que com quase toda a certeza sabe onde ela foi escondida. Ele se recusa a falar.27
Baixa o pau?
Se não se sabe onde está a bomba, é possível que não exista bomba alguma. Além disso, nada garante que o preso saiba onde ela está. Aceitando-se que a bomba existe e que o preso sabe onde está, parece preferível torturá-lo.
Pela maneira como está enunciada, a proposição se destina a levar a mais pia das almas a sancionar a tortura do preso para não assumir a responsabilidade pela morte das crianças. Contudo, há nela um truque de lógica: finge demonstrar a necessidade da tortura quando, na realidade, o que busca é a sua inimputabilidade. Não se trata de autorizar a tortura para salvar as crianças, mas um entendimento de que, uma vez autorizada, ela deve ficar impune. Além disso, através da particularidade do exemplo do avião das crianças, ela busca uma generalização por meio da qual se dá ao torturador o direito de decidir quando as circunstâncias requerem o suplício.
Se os torturadores de todo o mundo aceitassem o risco de ir às barras dos tribunais sempre que brutalizassem um inocente ou matassem um suspeito, a humanidade jamais teria conhecido essa praga que o jurista Ulpiano, na Roma antiga, chamava de “coisa frágil e perigosa”. Quase todos os pais das crianças a bordo do avião, se não todos, seriam capazes de infligir ao preso os mais cruéis suplícios, aceitando com naturalidade qualquer pena que a sociedade quisesse lhes impor. Admitindo-se que houvesse a bomba, que o preso soubesse onde ela estava e que da tortura tivesse resultado a salvação das crianças, poucos seriam os tribunais do mundo capazes de condenar o torturador.
É grande a freqüência com que a charada do avião de crianças é repetida na literatura antiinsurrecional e a parcimônia com que se menciona um caso semelhante, ocorrido na vida real. Em novembro de 1956 a polícia de Argel prendeu em flagrante um terrorista que acabara de colocar uma bomba no gasômetro da cidade. Sabia-se que ele montara outro artefato e que, se este explodisse, poderia matar milhares de pessoas. O terrorista recusava-se a falar, e o chefe de polícia levou o problema ao secretário-geral da prefeitura, Paul Teitgen. Católico fervoroso, combatente da Resistência, Teitgen sabia o que estava em questão, pois fora prisioneiro e vítima de torturas da polícia alemã no campo de Dachau. Ele conta: “Eu me recusei a deixar que o torturassem. Tremi a tarde toda. Finalmente, a bomba foi achada e desarmada. Graças a Deus eu tive razão. Porque se você se mete nesse negócio de tortura, acaba perdido”.28

Passado quase meio século de sua vitória na Batalha de Argel, aos 92 anos, o general Massu ratificou a opinião de Teitgen: “A tortura não é indispensável num tempo de guerra. Nós poderíamos ter passado sem ela. Quando penso na Argélia, fico desolado. Nós poderíamos ter feito as coisas de maneira diferente”.29 


Referencias bibliográficas:
1 Maria Celina d’Araujo e Celso Castro (orgs.), Ernesto Geisel, p. 225. 2 Entrevista de Marcelo Paixão de Araújo a Alexandre Oltramari, Veja, 9 de dezembro de 1998, pp. 44-9. 3 Roger Trinquier, La guerre, p. 176. 4 O Estado de S. Paulo, 28 de julho de 1970, p. 6. 5 Antonio Carlos Scartezini, Segredos de Medici, p. 8. 6 Jacob Gorender, Combate nas trevas, p. 261. Para uma detalhada sustentação da posição assumida pelo PCB até o final dos anos 70, ver Renato Guimarães, Travessia. 7 Carlos Marighella, Poemas, p. 21. A informação de que Marighella é o autor do folheto Se fores preso, camarada... está em Jacob Gorender, Combate nas trevas, p. 245. 8 Entrevista de Zilda Xavier Pereira a José Mitchell, Jornal do Brasil, 12 de janeiro de 1995, Caderno Brasil, p. 5. 9 Elaine Scarry, The body in pain, p. 29. 10 Testemunho ouvido pelo autor. 11 Michel Foucault, Vigiar e punir — História da violência nas prisões, pp. 33 e segs. 12 Informação dada ao autor por um oficial cujo nome fica preservado. 13 Ariston Lucena, agosto de 1988. 14 Depoimento de Manoel Henrique Ferreira, em Luzimar Nogueira Dias (seleção), Esquerda armada — Testemunho dos presos políticos do presídio Milton Dias Moreira, no Rio de Janeiro, pp. 32 e segs., citado em Brasil: nunca mais, pp. 22 1-2. 15 Entrevista de Pedro Marivetti, morador de São Domingos do Araguaia, a Romualdo Pessoa Campos Filho, 21 de janeiro de 1994. APRPCF. 16 Marco Antônio Tavares Coelho, Herança de um sonho, p. 374. 17 Elaine Scarry, The body in pain, p. 37. 18 Pierre Vidal-Naquet, La torture dans la république, p. 9. 19 Estudo e Apreciação sobre a Revolução de 1964. Informe 209/S-102-A3-CIE, de 16 de junho de 1976. AA. 20 Para o caso da moça, depoimento de Vera Sílvia Magalhães à jornalista Helena Salem, em Vários Autores, Versões e ficções, p. 68. 21 Percival de Souza, Autópsia do medo, pp. 12 e 444. 22 Depoimento de José Elpídio Cavalcante, em Brasil: nunca mais, p. 240. 23 Mauricio Paiva, O sonho exilado, p. 45. 24 Aton Fon Filho, da ALN preso em 1970, foi torturado por seu ex-companheiro Hans Rudolf Manz no carro em que era transportado do Rio para São Paulo (Ariston Lucena, agosto de 1988). 25 Elaine Scarry, The body in pain, p. 36. 26 Maria Celina d’Araujo e Celso Castro (orgs.), Ernesto Geisel, p. 225. 27 Algumas versões da parábola. Em francês: Roger Trinquier, La guerre, p. 174. Do padre Delarue, capelão militar da 10ª Divisão de Pára-Quedistas em Argel: “Entre dois males, o de fazer um bandido sofrer momentaneamente, e o de deixar que inocentes sejam massacrados, deve-se escolher, sem hesitação, o menor: um interrogatório sem sadismo, porém eficaz” (em Pierre Montagnon, La Guerre d’Algérie, p. 207). Em espanhol: “O que se tem de perguntar, em termos maquiavélicos, é até que ponto os fins justificam os meios. Um preso sabe onde está colocada uma bomba que vai matar centenas de pessoas. O senhor poderia ter de carregar a responsabilidade da explosão de uma bomba num colégio de crianças, matando centenas de meninos, por não ter torturado”. Vicente Massot, secretário de Assuntos Militares do presidente argentino Carlos Menem, citado em Horacio Verbitsky, El vuelo, p. 19. 28 Alistair Horne, Histoire de la Guerre d’Algérie, p. 211. O prisioneiro era o comunista francês Fernand Yveton. Foi preso no dia 14 de novembro de 1958, na usina Hamma Gaz. Em Pierre Montagnon, La Guerre d’Algérie, p. 204. 29 Entrevista do general Jacques Massu a Florence Beaugé, Le Monde, 21 de junho de 2000: “Torture en Algérie: le remords du général Jacques Massu”.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Resenha do texto de Luce Irigaray: "Este sexo que não é um"

Infelizmente, boa parte do que vou escrever agora só vai fazer sentido (ou não) para psicanalistas.

Luce IRIGARAY
Este sexo que não é um (resenha)

Algo que me causou uma impressão nesse texto é que a autora faz um texto de psicanálise, a partir de Lacan, mas não concorda com todas as suas asserções sobre a mulher. Ainda bem.
Muitas vezes se leem os textos de Lacan ou de Freud com uma noção de autoralidade que Foucault chama de “fundadores de discursividade” isso de uma forma algo arbitrária, ele mesmo diz. São autores que dão início a uma tradição de pensamento, o que coloca seus textos numa relação de verdade com a ciência na necessidade de haver uma recorrência a seus textos na produção do discurso desta mesma ciência. Assim se cria, de saída, uma posição transferencial, mas que vai ser nuançada e caso a caso. Um fundador como este pode ser tomado como dono da verdade, sujeito suposto saber, entre outros. Alguns podem tomar a coisa em um sentido quase de texto sagrado, onde as incoerências e preconceitos não são trabalhados e a coisa, como Lacan mesmo brincava “se tornará um belo fóssil”. Outros podem encontrar confirmações nas entrelinhas de uma enunciação, que por medo de torná-la própria, se tornará de outro. (acho que o caso mais claro disso são as referencias exaustivas de Lacan à Freud, quase colocando palavras em sua boca de tanto decifrar suas intenções.) Enfim, estes autores pedem um retorno constante e muito da graça do desenvolvimento dos discursos fundados por ele reside na forma que cada um vai lê-lo para dar diferentes suportes seja a sua transferência com o autor, seja à transferência ao discurso fundado por este, seja as suas inclinações desiderantes.
 É uma questão de ver o valor de verdade de uma maneira diferente. A maneira do Foucault de falar sobre isso era de estudar ( o que equivale quase a dizer) a verdade como ato, como veridicção, que em certo sentido é uma arte, em outro um ato de fala.
                Essa perspectiva envolve falar desses autores  como por vezes instituindo o campo, por vezes o desenvolvendo e o lugar de verdade é diferente em cada caso. Cabe pensar que uma parte importante do trabalho de qualquer psicanalista é a queda do sujeito suposto saber. Sempre que há suposição, há sujeito (LACAN,1973). Mas o saber de que se trata nessa articulação “suposto saber” é o saber inconsciente, muda de estatuto até porque ele não é enunciado de maneira assim, assertiva. Esse saber é enunciado mais por índices e indícios que por qualquer outra coisa. Isso aponta mais para a criação de verdade e desdobramento do saber. Uma das coisas que Lacan põe é que a verdade pode ser dita (meio-dita), mas o saber inconsciente não, ele é suposto.
Na verdade, existe muito mais entre as diferenças de Lacan e Foucault sobre a verdade, mas não de forma incorrigível. A maneira do Lacan a ver é um pouco menos enunciativa, apesar dele mesmo colocar regras para que a verdade seja enunciada. Acho que esse é um ponto que o conceito do Foucault termina engolindo a do Lacan, nos obrigando a tomar um pouco de distância da concepção deste. Mas acho que esse debate merece outro texto, não esse.
                Estes textos de Lacan, alguns carregados de, digamos, veridicção, trazem em seus enunciados e o momento e lugar de percursos  e de contextos para que algo como a psicanálise se coloque por fim como indo para além destes mesmos autores fundadores. Isso implica separar autor de discurso. O discurso teria, assim, algo de uma vida própria, que passa pela divisão do autor, ou seja, do fato que mesmo alguém como Freud e Lacan se colocam como divididos pela doutrina mesma que eles criaram.
                Achei importante falar brevemente de um tema tão denso porque acredito ser a melhor maneira de começar a falar desse texto de Luce Irigaray. Ela trabalha algumas das questões da psicanálise com a mulher, de maneira bastante avisada sobre os preconceitos recorrentes.  A contra-transferência, dizia Lacan, é a soma dos preconceitos do analista. O lugar mais propício para que isso aconteça é no que diz respeito à sexualidade feminina.  Ela sempre foi pensada a partir de parâmetros masculinos. A própria noção do Lacan, apesar de trazer muitas perspectivas inovadoras, contém ainda toda uma fantasia de homem a respeito da mulher, especialmente em seus aspectos de divinização, onde podemos sentir aquela ambivalência tão comum quanto a de um poeta com sua musa.
                A partir disso, Irigaray aponta para a questão do desejo da mulher ser dado por procuração, em relação ao desejo masculino. O curioso é ela trazer que, dado esta inclinação milenar patriarcal sobre a mulher e seu corpo, seria necessário inventar outro alfabeto. Num certo sentido isso caminha lado a lado com a asserção lacaniana de mostrar o quanto há de fálico em cada universal, de pensá-lo como uma impropriedade irrealizável da sexuação masculina, que regula até mesmo o discurso filosófico.  Junto disso, Irigaray coloca o in(de)finito da sexualidade feminina, trazendo ao infinito a indefinição inuniversalizavel num modo único de gozo. O gozo feminino como múltiplo, passando por todos os objetos parciais.
                É claro que fica no ar se esse in(de)finito da sexualidade feminina não é resultado de séculos de opressão. “Como rejeitos ou dejetos de um espelho investido do sujeito masculino”. Isso caminha lado a lado com a noção de objeto “a” ou de objetos parciais, mas a diferença é que Irigaray fala disso a partir de um lugar, que é para além do conceito, a produção do contexto do conceito em séculos de opressão.  Ela também não parece querer colocar a história como causa, mas antes mostrar que a condição atual da sexualidade feminina está posta em contexto e conceito.
                Enfim, a questão recai sobre não ser “uma”, que leva diretamente a dificuldade com a ideia de uno, de totalidade. Uma das falas do Lacan, que é interessante por ser ela mesma enigmática é “Il y a de l’un” que quer dizer, há do um. Ou seja, existe do um, mas do um como incontável. A fala de Irigaray, de falar que o sexo feminino não é um é  permite entrever que esse debate vai para além da sexuação, especialmente se entendermos a sexuação como algo que também dará a tônica da maneira de pensarmos o mundo e suas relações (impossíveis).
                Mesmo que essa perspectiva seja muito importante, o seu texto não parece se focar nisso. Ela assume uma perspectiva política, porque a política é algo tão relacionado a estas questões de lógica, que falar de política na maneira que Irigaray fala é já conversar sobre esta lógica. O texto fala muito de como a mulher foi sempre usada como valor de troca, que põe em questão que falar sobre sua libertação é desde já afirmar que muitas das qualificações postas sobre a mulher advém de sua submissão. A tomada como valor de troca é a economia fálica se imiscuindo na forma mesma de se pensar as mulheres que de saída não estão inteiras presas nessa economia, mas que cada desvio, à luz da universalidade, se volta novamente para essa “função parasita” que é o falo(Lacan, 1973). Ou seja, é necessário sair um pouco desta economia para que possamos de novo pensar a mulher precisamente a luz da não existência da relação(rapport) sexual.

                Mas para tanto, é preciso rever uma postura de se pensar a mulher apenas no negativo do universal fálico, para poder criar assim uma nova positividade, que reavalie algumas dessas posições. A psicanálise lacaniana, por exemplo, precisaria se reinventar, superar alguns preconceitos, o que equivale a pensar com mais calma sua própria contra-transferência. O que quer dizer, às vezes, ler Lacan contra Lacan. 

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Psicanalise e Terapia Cognitivo Comportamental


Mexendo nos twitter da vida, me deparei com este artigo, bem jornalistico, do Guardian falando sobre terapia. Aponta que aquela narrativa do Terapia Cognitivo Comportamental, de psicoterapia rápida com bons resultados, pode ser uma falácia. Empiricamente, inclusive. Os estudos mostram que de uns anos pra cá, a eficácia da terapia caiu pela metade. Mais ainda, os estudos de tratamento de longo termo apontam que a durabilidade dos resultados positivos também não é tão alta. Muito disso parece se explicar por um fenômeno psicológico importante: a força de uma promessa de cura. A promessa pode funcionar como uma sugestão poderosa, da mesma forma que se for administrado um comprimido de farinha, um paciente pode melhorar. Só que esse efeito tem seus limites, especialmente se o tratamento consistir na ideia que existem pensamentos disfuncionais e que a gente tem que se livrar deles, ao invés de aprender com eles. A nossa vida não é apenas pragmática. Os sintomas e o sofrimento colocam em questão desde o sentido que a nossa sociedade dá à vida até questões como amor, onde não basta dizer: amas de maneira disfuncional.

Lacan dizia que existe um saber no inconsciente, que a gente sabe sem sabê-lo. Esse saber vai aparecer nesses sintomas, em horas de descuido, no sonho, nas nossas emoções. A psicanalise busca escutar estas coisas com cuidado. Acho que nessa discussão entre duas terapias de praticas opostas está algo mais que mera reserva de mercado. Estamos entre pensar os seres humanos como maquinas de felicidade e produção ou levar em conta a radicalidade de nossa treta de existir para, quem sabe, criarmos nossa própria felicidade. Enfim, é por isso que eu levanto essa treta, porque se eu pensasse diferente, não teria escolhido a psicanálise e não tava tretando, hehe.
No entanto, acho que o jornalista com certeza não investigou mais a fundo a vida do Freud, repetindo os clichês de quem só quer dispensar o que ele pensava. Gente, o Freud nunca enriqueceu com a psicanálise.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

uns dois

É uma leitura ainda começando mas já penso que:

Se  Il y a de l’Un quer dizer não que o Um exista como tal, isolado, o universo. tem mais a ver com trazer do um como incontável. Não é "Há o um", é "há do Um", como se o um tivesse mais a ver com manteiga ou água do que uma bolacha ou uma cadeira. Pode-se, talvez, pensá-lo mais como um artigo do que um numeral. O artigo não se conta, tanto que o plural de um não é dois ou quatro, mas "uns". Numero engraçado esse, que você pode por no plural. os outros números, só dá para colocar no plural se você quiser falar deles escritos, dos algarismos, aí dá pra falar cincos, trezes, etc..

Mas no "uns" que a coisa fica interessante, porque o um não é necessariamente único. dá falar nele, como afirmei acima, na ordem do incontável. A afirmação nas fórmulas da sexuação, de dizer "ao menos um" quer dizer que podem haver uns, se passarmos para além do mínimo. Será que dá para falar do um à maneira de Heráclito, que tudo se reune no um, se formos seguir a idéia do Lacan? Sim, mas desse um tem um monte, e não sei se vão se dar muito bem, uns com os outros. 

O engraçado é que ao dizer uns, aparece como que uma recusa em contar, como se do um não se seguisse necessariamente dois e depois três. Aí a gente começa a falar do um, para além da unidade que o faz, cria um todo que não é feito de todos. Enfim, mesmo trazendo a noção de conjunto, o que fica de dentro e o que fica fora, aparece a possibilidade que tomar o conjunto por uma unidade é voltar ao mesmo problema. O Um fica maior, mas ele ainda é só um, como diria o menino para o valentão.   

Enfim, 



quarta-feira, 4 de março de 2015

rigidez psicológica, um conceito mais ou menos atual

Ao falar de questões que se passam nas relações entre o desenvolvimento emocional e o o desenvolvimento intelectual, Merleau-Ponty apresenta uma tese de que diversos componentes da nossa inteligência são desenvolvidos a partir de relações afetivas. Ele estava falando de coisas no domínio da psicologia, inclusive localizando esse saber com o intuito de não torná-lo totalizante. A psicologia o interessava na medida em que por meio dela se podia discutir algumas questões da sociologia para além do fato social e da filosofia para aquém das grandes categorias. Ele até coloca que o conhecimento, no sentido da intelecção, é mais da ordem do efeito que de causa.

Eu mesmo tenho algumas questões com a psicologia, porque o logos do psi é uma noção um tanto quanto complicada pelo mesmo motivo que foi exposto acima: conhecimento é mais efeito do que causa, especialmente no que tange ao psi. No entanto, os problemas que a psicologia pode vir a por são muito interessantes, desde que junto exista uma reflexão que a ultrapasse, como a sociologia por exemplo, e foi isso que realizou o Merleau-Ponty em suas aulas na Sorbonne, que são quase como um curso de psicologia crítica. Tá sendo ótimo  lê-lo, quase como voltar às salas de aula onde fiz meu curso, mas com um professor de filosofia falando de psicologia.

Nesta problematização da psicologia ele fala dessa inter-relação (desenvolvimento emocional e desenvolvimento intelectivo) a partir de um exemplo, o da rigidez psicologica tal qual descrita pela Frenkel-Brunswik(1949). Esse estudo trabalhava a partir dos métodos projetivos, que pressupõem que a personalidade exprime-se no modo de estruturar os dados sensíveis, ou em bom português, a gente percebe as coisas de acordo com o que somos.  A rigidez pesicologia é a atitude dos sujeitos que "a respeito de todas as questões dão respostas simples, sumárias, diretas e sem matizes e que estão pouco dispostos a reconhecer fatos discordantes". Bem, isso parece com muitas atitudes pela internet. São sujeitos em geral tradicionalistas que teriam uma personalidade muito dividida, que quando vão falar dos pais se atém apenas aos seus traços exteriores, com medo de neles descobrir imperfeições em profundidade.

 Aqui quase cito o texto do Merleau Ponty: "Agressividade reprimida contra os pais. Esses sujeitos evitam toda ambiguidade e procedem por dicotomia (dilemas limpeza/sujeira, obediência/autoridade, virtude/vício, masculinidade/feminilidade). (...) As familias dessas crianças são, em geral, autoritárias e frustantes. A criança faz uma dupla imagem de seus pais: uma, abençoada, que aparece em primeiro plano; outra agressiva, que se oculta profundamente." A ligação desta questão afetiva com a percepção se daria em visões das coisas sumárias nesse sentido:

"As pessoas se dividem entre os fortes o e os fracos"
"Os professores deveriam dizer aos alunos o que tem que fazer em vez de perguntar o que desejam."
"Só existe uma maneira de fazer bem alguma coisa."

Todos os exemplos são do próprio Merleau-Ponty. Ele diz que isso não é ligado apenas a certas opiniões, porque o sujeito pode ser liberal, mas de um modo absoluto e abstrato: "todos os homens são idênticos, sobre todos os pontos de vista." O que faz a diferença não é você adotar tal ou tal tese (seja abolicionismo penal ou ser a favor da criminalização do aborto) mas a maneira como se adota, como se justifica, e como se ater a ela.

O que é interessante é que o argumento fica problemático se pensarmos em personalidade, até porque uma categorização como essa pode atrapalhar em ver as muitas nuances presentes, bem como dicotomiza, o que pode deixar o estudo como objeto dele mesmo, hehe. é um estudo um tanto rígido, mas pelo fato mesmo que ele não é "tudo de ruim" coloca a gente para perceber que muitos dos conflitos de percepção de mundo tem por fundo também certa questão com a afetividade própria a cada um.

A Melanie Klein, psicanalista que ela era coloca o problema lado a lado com outros conceitos: Ambivalência, que diz respeito fazer, quanto a um mesmo ser, duas imagens alternativas, uma boa e outra má, que não são vistas como fazendo parte de um mesmo objeto. Ou seja, bom e mau separados, não podendo estar no mesmo sujeito. Ambiguidade, que é algo da vida mais nuançada dos adultos, diz respeito a perceber duas imagens, mas que fazem parte do mesmo objeto.

Trazendo isso de outra forma: para perceber os objetos divididos, incompletos, não-todos, é necessário ver que os referentes são não tem uma característica apenas. Bom e mal não fazem parte do referente, são apenas nosso julgamento.
 

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

A psicanálise no gerúndio.


Depois de escrever o texto sobre o texto do Dunker, eu fiquei pensando... Lacan dizia que o lugar de onde ele falava seu seminário era de analisando. Existe toda uma discussão sobre o lugar do analista e quanto mais eu me detenho nisso, percebo que o lugar do analista tem a ver com a sustentação ou de um silencio ou algo como um tuíte, meio curto e grosso, só para o analisando sair do lugar e continuar seu caminho de associação.

Quando a psicanalise começou quem falava era a histeria. O próprio Freud tirava suas ideias de sua auto-análise. o analista de Freud, ele não existia, mas a necessidade de haver um, quando se fala em análise, fez algumas pessoas conjecturarem que podia ser o Fliess, ouvinte crítico e amigo. Um sujeito mei loco, que tinha umas idéias de uma ligação entre sexualidade e nariz, e dizia que as pessoas tinham uma bissexualidade inerente. Esta última ideia, Freud retomou doidamente e radicalmente. O lugar da escrita da teoria psicanalítica é do analisando. o que o psicanalista faz não é exatamente teoria, apesar de ter um papel fundamental em seu desenvolvimento.

Em francês existe uma maneira de falar as coisas que não é exatamente igual no português, mas tem lá suas reverberações, tanto que eu acho que consigo explicar aqui. Analista não é contável, como você conta maçãs: uma maçã, duas maçãs... Analista, por ser um lugar, é incontável, é que nem água. Você não conta uma água, duas águas... ( a não ser que você esteja falando metonimicamente de copos de água) Você só diz: água. Em francês: Boire de l'eau. Em português seria algo como; vou beber da água. Daí, analista não seria um analista, mas sim uma parte numerável em si, mas apenas numerável como parte. Parece complicado, mas isso tem a ver com problemas de tradução e coisas que ocorrem ao pensar esse lugar curioso que é o do analista.

Ainda bem que em português temos como dizer isso de forma que francês nenhum pode dizer (sem esforço), porque temos o verbo estar. Você não é analista, você está analista. Até por colocar em jogo um certo des-ser, o verbo estar pode ser interessante para descrever. Engraçado, como se trata de um des-ser, a gente poderia dizer, em português, que para estar analista é importante descer do tablado.

Quanto a questão do analisando, cabe dizer que se fazer fazer teoria, burilar nas formações do inconsciente, incomodar-se com isso ao ponto de eliciar pensamento, é estar no lugar de analisando, mesmo que você tenha "atravessado a fantasia"(como dizem). Como tal, cada uma das formulações nesse lugar são no máximo provisórias e com necessidade de constante revisão. Vamos se falando.